Os melhores discos brasileiros da década (2010–2019)

Uma lista com Juçara Marçal, Tetê Espíndola, Ana Frango Életrico, Céu, Metá Metá e muito mais!

Maqtheus
28 min readNov 27, 2020

A década de 2010 foi, a nível nacional, um período de renovação. São inúmeros os artistas que surgiram ao longo dos anos, inúmeras obras que se consagram entre o melhor da nossa música e, sobretudo, inúmeras perspectivas que continuam a ser, desde então, características fundamentais na produção cultural brasileira.

Com uma seleção de quase 200 álbuns, a lista é composta por 100 das melhores e, porque não, importantes peças músicas lançadas entre 2010 e 2019. No total, formatos que vão desde mixtapes, EPs, singles ou qualquer material lançado em disco ou não.

E mais do que uma lista, este ranking é um histórico digno de tudo o que ouvi desde que comecei minha jornada pela música nacional, há muitos anos. Sem exagero, é minha lista mais importante — aqui ou em qualquer lugar — porque representa algo muito além do Maq. Quem me conhece sabe que a primeira edição foi lançada em 2020, juntamente com outras listas que criei naquela época. Mas a graça de refazer, apesar de parecer estranho, é justamente a ampliação do que já havia feito.

De 70 para 100 obras, esta nova versão conta com acréscimos e alterações — de posições — de acordo com o que comecei a consumir, novo ou em maior quantidade, nestes quatro anos. Para finalizar, acho importante destacar que os blurbs, resumos ou sinopses aqui presente nada mais são do que minhas impressões sobre cada projeto. Não se trata, portanto, de críticas ou análises que expressem determinado juízo de valor. Esses são só meus pensamentos. Confira:

100. AmarElo — Emicida (2019)

AmarElo, apesar de todo o apelo comercial, é de longe o melhor disco de Emicida. Isso fica evidente em sua completude de significados e abordagens socialmente importantes.

99. Cores & Valores — Racionais MC’s (2014)

Cores & Valores tem por objetivo ressaltar a passagem do Racionais MC’s pelo rap nacional. E, embora um pouco distante do impacto causado pelo grupo nos anos 90, o disco ainda assim consegue conter grande parte daquilo que os tornou nomes principais do movimento no Brasil.

98. O Futuro Não Demora — BaianaSystem (2019)

O Futuro Não Demora, de BaianaSystem, vai além de suas referências postadas em sons caribenhos e latino-americanos. É mais um dos incríveis trabalhos feitos pela banda para agitar as ruas.

97. Carne de Pescoço — Heavy Baile (2018)

Carne de Pescoço, além de toda a combustão recheada de sucessos e convidados, é também uma peça importante na demarcação do funk nas trincheiras da música eletrônica nacional, goste você ou não.

96. Rimas & Melodias — Rimas & Melodias (2017)

Rimas & Melodias é um coletivo de hip-hop formado apenas por mulheres, que, entre nomes como Tássia Reis e Drik Barbosa, exploraram — com sensibilidade — temas que só a experiência de cada uma poderia expressar. É um projeto que faz falta hoje em dia.

95. Deus é Mulher — Elza Soares (2018)

Quando foi lançado, Deus é Mulher causou verdadeiro alvoroço em um determinado setor da internet: os reacionários. Aqueles que bateram as asas, ainda mais no período marcado pela eleição de Jair Bolsonaro. Entende-se, portanto, que a grande representatividade da obra foi importante por mostrar que apesar do tempo, Elza ainda se manteve e se manterá atual.

94. Próspera — Tássia Reis (2019)

Depois da passagem reveladora pelo coletivo Rimas & Melodias, Tássia Reis investe em algo próprio, com perspectivas sobrepostas ao que suas canções não exigem; sem ter, portanto, limitações temáticas. Desse modo Próspera, prospera, na verdade, com o melhor que ela tem para oferecer.

93. Rito de Passá — MC Tha (2019)

Rita de Passá combina o funk com elementos musicais regionais e temas que exploram a ancestralidade poética de MC Tha. É um disco que tem apelo na música pop, mas que nunca deixa de impressionar pela combustão de fatores que expõem uma identidade firme e distinta.

92. Violeta — Terno Rei (2019)

Terno Rei, outra banda que se destacou por realinhar o indie rock brasileiro na década de 2010, explora acordes sonolentos e temáticas amorosas em Violeta, uma delação positiva sobre aquilo que eles representam como arte.

91. Mahmundi — Mahmundi (2016)

Apesar de não pretender ser um revival, Mahmundi consegue, como poucas obras postadas nas referências da década de 1980, atingir um nível de sofisticação que mistura o melhor do passado com o presente. É adequadamente sustentável.

90. Coisa Boa — Moreno Veloso (2014)

Coisa Boa, de Moreno Veloso, é o som típico que se dissipou em nome da MPB após os anos 2000. São texturas acústicas com vocais melosos, com samba e repetições a lá Chico e Caetano. É bom, mas tem seus momentos que perduram mais do que o necessário.

89. Aqui — Os Ritmistas (2017)

Mesmo que seja tarde demais para assumir, a bossa nova, dissuadida pelo samba e outros ritmos brasileiros, ainda é parte extremamente interessante da nossa música. Aqui, de Os Ritmistas, acerta na hora de cozinhar essas influências, contando com o diferencial de impor diversão a cada fragmento sonoro — perfeito para guiar um bloquinho no carnaval.

88. Insight — Jaloo (2014)

Estava lá. O tempo todo. Ele só não viu quem não queria. Insight, apesar do tom intransigente e descompromissado, é uma das obras mais importantes da década de 2010. Foi nele que Jaloo deu os primeiros sinais de como seria sua presença indispensável na música pop brasileira.

87. Sábado — Cícero (2013)

Composições acessíveis, que parecem evacuar através de uma espiral temática, são elementos essenciais na construção atmosférica extremamente cotidiana em que Cícero se apoia em Sábado.

86. ft (pt. 1) — Jaloo (2019)

Não há sentimento maior que se destaque em ft (pt.1) de Jaloo do que sua produção. É preciso ver que, apesar das inúmeras participações, até porque esta direção quase coletiva é tão óbvia quanto literal, o álbum consegue manter a sua unidade geral, ligada pela produção da qual Jaloo tornou parte inalienável de sua presença no cenário nacional.

85. Fenda — Papisa (2019)

Fenda é o resultado de um trabalho individual em que Olivia, a Papa, procurou focar para expor seus sentimentos de forma crua e ininterrupta. É por isso que sua energia sonhadora e seus momentos de devaneio soam tão incorporados à identidade da artista quanto qualquer coisa que ela já fez.

84. Running — Febem (2019)

Um dos principais precursores do grime em terras brasileiras, Febem, antes de iniciar suas modificações do gênero, teve seu rumo apontado para o funk e o rap, sendo Running o melhor dos dois mundos, aqui condensado por ele.

83. Ava Patrya Yndia Yracema— Ava Rocha (2015)

Disco é acentuado pela experimentação acessível de Ava Rocha, que canta de tudo um pouco, costura sonoridades e não esconde a intenção de criar algo próprio sem soar tematicamente repetitivo ou superficial.

82. Alienígena — Jonnata Doll e os Garotos Solventes (2019)

O terceiro álbum do Jonnata Doll & Os Garotos Solventes surge entre o pós-punk dos anos 80 ao rock alternativo com aquela pegada brasileira que tanto se faz necessária na cena atual.

81. Melhor do Que Parece — O Terno (2016)

O Terno é, sem dúvidas, um dos grandes expoentes do indie rock brasileiro da década de 2010. Embora os discos da banda dificilmente pareçam ter diferenças estéticas, Melhor do Que Parece acaba se destacando justamente por cumprir essa ideia.

80. A Toada Vem É Pelo Vento — Luiza Brina (2011)

Marcado positivamente pela ação do tempo, A Toada Vem É Pelo Vento organiza em si algumas das características indissolúveis que definiram, em parte pela própria artista e por seu repertório, o pop alternativo brasileiro que permeou nomes como Céu, Tulipa Ruiz e Mahmundi durante a década.

79. Bahia Fantástica — Rodrigo Campos (2012)

Bahia Fantástica é um retrato da evolução musical de Rodrigo Campos na área que inclui o samba com variações estéticas quentes da MPB, e que são, a todo momento, apelidadas pelos parceiros do artista que agregam perspectivas próprias ao disco, como a presença de Romulo Fróes e Thiago França, nomes essenciais na cena paulista, espaço criativo em que a obra foi concebida.

78. Roteiro pra Aïnouz, Vol. 3 — Don L (2017)

Roteiro para Aïnouz, Vol. 3 é a obra que consagrou Don L como figura carimbada, goste ou não, do rap consciente. Embora disperso em texto próprio, o álbum encontra volume na expertise do rapper em criar versos cheios de efeitos. É a base de tudo que ele desenvolveria mais tarde.

77. Recanto — Gal Costa (2011)

O álbum inédito de Gal Costa, Recanto, foi uma extensão da persuasão artística da cantora, que mesmo depois de anos, continuou tentando e experimentando coisas novas como se fosse incapaz de permanecer parada, estática ou sem dar à música um sentido de aliança geracional. É esplêndido.

76. Zulu, Vol. 1: De Onde Eu Possa Alcançar o Céu Sem Precisar Deixar o Chão — Zudizilla (2019)

Zulu, Vol. 1: De Onde Eu Possa Alcançar o Céu Sem Precisar Deixar o Chão é denso, extremamente denso. E talvez por isso Zudizilla optou por evitar excessos, buscando sempre manter um som rápido e de fácil compreensão, transmitindo suas mensagens sem interferir ou deixar de soar profundo.

75. Barulho Feio — Romulo Fróes (2014)

Em Barulho Feio predomina a calma. Pelo menos é esse o sentimento deixado por Romulo Fróes ao longo de mais um disco pautado pela sua poesia. O barulho só vem quando é percebido pelo frenesi da turma de Juçara Marçal — Thiago França e Rodrigo Campos — que empregam suas habilidades para criar mais um clássico da cena paulistana.

74. Abaixo de Zero: Hello Hell — Black Alien (2019)

Embora muitos — muitos mesmo — discos e artistas de diferentes gêneros e estilos tenham procurado representar a realidade essencialmente política do Brasil depois de metade da década, apenas Abaixo de Zero: Hello Hell conseguiu fazê-lo.

73. R Á — Rodrigo Ogi (2015)

É interessante notar que com pouco, Ogi ainda consegue impor muito — de si mesmo ou do que representa — e é por isso que RÁ, seu melhor trabalho até agora, soa quase infinito em termos de possibilidades.

72. Disco Demência — Hierofante Púrpura (2016)

Imersa no melhor do rock psicodélico/noise-rock, a banda Hierofante Púrpura distribui questões próprias e externas que compõem um espaço de reflexão duvidoso, mas interessante. É uma união de aflições, afetos e compreensões que exalam maturidade e avidez na medida certa — um excelente convite para desfrutar de seus longos e barulhentos minutos.

71. Planeta Fome — Elza Soares (2019)

Diferentemente de A Mulher do Fim do Mundo e Deus é Mulher, Planeta Fome é um álbum lançado por Elza Soares na década de 2010 que mais se aproximou, para refletir suas intenções, de algumas diferenças estilísticas tanto na sonoridade quanto na temática do que ela vinha propondo. O resultado, como esperado, é excelente.

70. Letrux Em Noite de Climão — Letrux (2017)

Letrux Em Noite de Climão é a maior conquista da Letrux na década de 2010. Nele, a artista reúne parte de seu repertório mais inteligente e astuto, que desempenham diferentes papéis na construção estética e sonora pela qual ela viria a ser reconhecida até os dias de hoje.

69. Nó na Orelha — Criolo (2011)

Responsável por pavimentar o hip-hop na década de 2010, Criolo em Nó Na Orelha entrega um material caseiro que logo viria a ser a base de toda cena nacional que entre os beats característicos e a mistura de ritmos da MPB, tornou possível o acesso de artistas do gênero em um espaço de reconhecimento que dificilmente eles teriam sem a influência de Criolo e seu melhor álbum já lançado.

68. O MENINO QUE QUERIA SER DEUS — Djonga (2018)

O auge artístico de Djonga, O MENINO QUE QUERIA SER DEUS é, talvez, o mais longe que o rapper chegou de criar rimas e versos antagônicos no rap nacional. É o trabalho que o consagrou como um nome único e de constante destaque na cena.

67. Batuk Freak — Karol Conká (2013)

Como sugere no título, Batuk Freak o álbum de estreia da rapper Karol Conka é envolto de batuques e sintetizadores dos quais são alinhados aos versos e o flow da artista que ganha destaque entre canções que remontam o seu passado e seu futuro através da música, abrangendo uma estética inovadora e única durante a década.

66. Caravanas — Chico Buarque (2017)

Em Caravanas, Chico Buarque consegue se manter atual mesmo que suas canções parecem vir direto de outra época, e dessa forma é possível consumir cada faixa como se fosse um presente do tempo, oferecido através da antologia poética do artista.

65. Galanga Livre — Rincon Sapiência (2017)

Narrativamente, Galanga Livre é um caso especial no rap nacional. Em sua obra, Rincon Sapiência utiliza os elementos mais inusitados — ou não — capazes de dar substância ao mar revolto que são suas rimas e versos vorazes.

64. A Praia — Cícero (2015)

A Praia, de Cícero, é seu melhor disco. Não que seja importante rivalizar as diferentes obras do artista, mas num cenário em que suas características parecem se repetir esteticamente, uma de suas marcas mais interessantes se destacaria uma vez ou outra, e isso é feito aqui.

63. Rasura — Ruído/mm (2014)

Acordes dissonantes e uma energia ferozmente pioneira são demarcações interessantes que dão vida ao que Ruído/mm procura fazer através da perspectiva pós-rock e das suas sonoridades violentas numa constante construção sofisticada do passado.

62. #1 — Jaloo (2015)

#1 é um dos triunfos de Jaloo, álbum que catapultou a artista e a fez ocupar diferentes espaços ao longo dos anos. Esta é, também, uma conquista própria com a qual ela projetou sua ambiguidade pop única.

61. Suvaco do Mundo — Arthus Fochi (2017)

Percussões por vezes interrompidas por acordes que convencem a obra a emitir frequências folk, Suvaco do Mundo canaliza uma série de pensamentos e reflexões de Arthus Fochi em busca de uma desatenção necessária na composição atmosférica do disco.

60. Par de Olhos — YMA (2019)

Incrivelmente sonhador, Par de Olhos é o grande destaque proporcionado por Yasmin Mamedio em 2019. Do rock estruturalmente difuso, passando pelo dream pop, a obra encontra raízes na perspectiva de uma sonoridade composta pelo interesse mútuo da artista em transpor a nostalgia.

59. Boogie Naipe — Mano Brown (2016)

Álbum de estreia de um dos maiores nomes do rap nacional, Boogie Naipe surpreende pela forma de encarar a nostalgia resgatada por entre fórmulas que exploram as diferentes condições artísticas de Mano Brown.

58. Ó — Juliana Perdigão (2016)

Momentos de palavras faladas, poesias e distorções que parecem reformular a estrutura que abriga a obra, Ó, de Juliana Perdigão, é um álbum que busca e encontra — na imensidão criativa que só as características aqui inseridas podem, de fato, desempenhar — o seu papel na difusão e algo novo e inusitado. Já sabem do que estou falando, né?

57. Elevador — Febem (2016)

Apesar de curto, Elevador é o início da jornada da Febem pelo grime londrino, um caminho de explorações que permeiam técnicas e estilos até chegar ao ponto em que ele passou a explorar ainda mais o gênero até transformá-lo em produto nacional, como fez com BRIME!

56. Japanese Food — Giovani Cidreira (2017)

Giovani Cidreira entrega um dissonante registro do cotidiano. É um presságio daquilo que o artista entregaria anos mais tarde com Nebulosa Baby, e por isso é tão incrível quanto haveria de se imaginar.

55. Xenia — Xênia França (2017)

São poucos os artistas que trabalharam tão bem e significativamente suas Influências, e em Xênia, Xênia França demonstra muito bem como fazer isso.

54. Taurina — Anelis Assumpção (2018)

Taurina é uma das obras que resume a existência do pós-MPB, seja porque inclui a presença de nomes importantes do movimento como Tulipa Ruiz, Céu, Ava Rocha, etc., seja porque contém a perspectiva de criação de uma artista cujo sangue que corre em suas veias está repleto de história e importância na música nacional.

53. Um Corpo no Mundo — Luedji Luna (2017)

A perspectiva musical de uma nova MPB que, entre suas influências modernas, ainda não havia ido além da busca por representações comuns. É então o ponto de partida que Luedji Luna utiliza entre as suas melhores e mais palatáveis melodias de soul e jazz em Um Corpo no Mundo.

52. Desordem Natural — Nuven (2019)

Desordem Natural não difere muito de Partir, de 2026, exceto pela curta duração e pela desordem, anunciada no título, em que as camadas do IDM são ajustadas na perspectiva de Gustavo Teixeira.

51. DRINK CLUB — Camões (2019)

DRINK CLUB é um passeio pelo dance em diferentes décadas, com diferentes perspectivas sobre raízes musicais e com volume suficiente para ser divertido e, ao mesmo tempo, refinado. É um som jocoso, que contrasta bem com letras fáceis de decorar e refrões igualmente identificáveis.

50. Goela Abaixo — Liniker e os Caramelows (2019)

O segundo álbum de Liniker e os Caramelows é um exemplo musical humano da formação artística que a cantora transcreveu em diferentes momentos de sua carreira. Mais do que isso, a obra faz uma investigação precisa de suas referências brasileiras, gerando um composto de devoção à música.

49. Para Dias Ruins — Mahmundi (2018)

Disco de conforto Para Dias Ruins é o mais próximo que Marcela Vale, a Mahmundi, chegou da exatidão de rabiscar nossos mais sinceros sentimentos em relação à permanência da experiência humana. Ela então se oferece como um ombro para se apoiar — em oposição à intenção terapêutica que qualquer outra obra poderia oferecer.

48. Fraga e Sombra — Meu Nome Não É Portugas (2019)

Em Fraga e Sombra, Rubens Adati (Meu Nome Não É Portugas), desdenha da simplicidade mas mantém a robustez do indie rock com aspirações de folk e dream pop, caminhos que especificam a grandeza temática do disco, que funciona como um resumo da obra do artista na cena paulistana ao longo da década de 2010.

47. Bluesman — Baco Exu Do Blues (2018)

Bluesman possui uma impressionante ambientação cheia de ancestralidade e adoração, que juntas acabam dividindo espaço com temáticas atuais, bastante indispensáveis, e batuques e riffs que permeiam canções de extrema importância social. É um dos clássicos brasileiros dos anos 2010.

46. Entre — Kamau (2012)

Nostálgico, Entre, de Kamau, é uma das mais importantes adições ao rap nacional, principalmente na década de 2010, em que a diferença musical se deu por meio de sons opostos ao indie rock que tomou conta do cenário nacional.

45. Casas — Rubel (2018)

Um álbum que pretende expor-se ao infinito sem ficar acorrentado aos moldes para isso. Casas, de Rubel, é uma demonstração perfeita de acolhimento e paixão, embora repleto de outros destaques temáticos e sonoros que sintetizam um lado favorecido pela dispensação da necessidade — aqui, a única coisa necessária são palavras.

44. Rainha dos Raios — Alice Caymmi (2014)

Rainha dos Raios é um dos pilares da música alternativa brasileira da década de 2010, principalmente por comportar uma atitude de Alice Caymmi que chamou atenção do público devido ao seu parentesco de peso na música nacional. Mas aqui abandona todas as suas características e redefine um espaço próprio e único, cheio de boas referências.

43. No Voo do Urubu — Arthur Verocai (2016)

No Voo do Urubu soa regular ao que vem sendo apostado pelo artista desde que começou a sua série de influências notórias na música brasileira em 1972.

42. Loxhanxha / Dito Antes — Dorgas (2011)

Hipnótica, Loxhanxha / Dito Antes é uma das peças mais interessantes da banda brasileira de sofisti-pop e neopsicodelia Dorgas. São momentos reflexivos que misturam um teclado sonhador com acordes atmosféricos de guitarra e bateria, como se estivéssemos realmente entrando no interior da obra. Surreal.

41. Dose de Adrenalina — Sain (2017)

Em Dose de Adrenalina, Sain cataloga o melhor boom bap da década, organizando suas rimas sob uma sonoridade impressionante que atravessa ambientes jazzísticos sem deixar de lado a influência do hip hop dos anos 80 e 90, revelado aqui através de uma produção tão empoeirada que charmosa.

40. Imagem — ROSABEGE (2019)

Há momentos em Imagem em que o som sofre rupturas, com quebras dinâmicas e vocalizações que se dissipam no ar, como na faixa “QUEM SERÁ”, em parceria com Ana Frango Elétrico. É, de certa forma, uma construção imaginativa do passado da música brasileira, porém, adapto-a para sonoridades eletrônicas mais atuais.

39. Cavala — Maria Beraldo (2018)

Empoderamento lésbico e vivência própria formam a principal linha narrativa do álbum de estreia da artista brasileira Maria Beraldo.

38. Sinto Muito — Duda Beat (2018)

Disco de estreia de Duda Beat apresentou a cantora pernambucana para o Brasil todo. A obra, que carrega influências regionais bem interessantes, parte de um lirismo poético ardente e que deixa profundas marcas em quem ouve.

37. Audaz — Filipe Ret (2018)

Obra-prima de Filipe Ret, mesmo quando o artista estava longe de se aliar às tendências mais comuns do rap/funk, Audaz é simbolicamente retro e, embora não pareça, teve um papel importante na formulação estética do artista, sendo seu trabalho mais interessante lançado até hoje.

36. Caravana Sereia Bloom — Céu (2012)

Caravana Sereia Bloom é o grande protótipo das ideias mais incríveis que Céu desenvolveria ao longo da década, que foi abastecida por discos seguintes como Tropix e APKÁ!, sequência excelente e inigualável feita pela artista.

35. Não Para Não — Pabllo Vittar (2018)

Embora Pabllo seja vista como uma figura puramente acessível e, por vezes, sem profundidade, seu impacto sempre foi muito bem definido, musical e socialmente, prova de como ela popularizou um ritmo que fez década na música pop brasileira.

34. Castelos & Ruínas — BK (2016)

Um dos principais eixos do hip-hop brasileiro na década de 2010, desenvolveu-se, em partes, graças ao trabalho influente de BK frente à contemporaneidade do gênero. Diversos nomes seguem dando vida às rimas e beats ilustres graças ao desempenho, sem exageros, de Castelos & Ruínas.

33. Besta Fera — Jards Macalé (2019)

Besta Fera é um retorno colossal, em que uma das maiores lendas da MPB atualiza seu repertório, utilizando o desejo evolutivo de sua arte para alimentar o novo em uma década de novos talentos ainda influenciados por ele.

32. Recomeçar — Tim Bernardes (2017)

No ponto em que os sentimentos entram em conflitos, Recomeçar se torna ainda mais interessante. Os arranjos e melodias, que soam tradicionais; e as letras, recheadas da vivência intrínseca do artista, conseguem reger um disco que merece ser apreciado pela sua beleza e força encantadora.

31. Passo Torto — Passo Torto (2011)

Passo Torto condensa parte dos aspectos desenvolvidos por Kiko Dinucci, Rodrigo Campos, Romulo Fróes e Marcelo Cabral , resultando na formação de uma nova cena musical que se tornou conhecida por emprestar e dar novas características à música de vanguarda no estado de São Paulo. E se tem uma coisa que Passo Torto faz é impor esse sentido urbano em narrativas recheadas de samba e rock.

30. Rockstar Mixtape — Raffa Moreira (2016)

Rockstar não é apenas o melhor projeto de Raffa Moreira, mas também um disco base para muito do que se tornou o trap sob sua influência. Chama a atenção pela clara evolução e pela imposição de uma grafia que delimitou, positivamente, a busca do artista pelo seu propósito, aqui, mesclado em versos sem maiores propósitos.

29. APKÁ! — Céu (2019)

Céu esbanja elegância ao recriar a atmosfera requintada próxima do que ela já havia feito em Tropix, mas que aqui, parece expandir os elementos eletrônicos dos quais sintetizam uma MPB moderna e completamente desavisada de limites estilísticos.

28. S.C.A — FBC (2018)

S.C.A. resume, em partes, a trajetória de Fabrício como um dos nomes mais interessantes da cena nacional. Fincado em uma dezena de referências, o álbum carrega os melhores versos e, também, a melhor presença dele como um artista 100% comprometido com a sua arte.

27. Mormaço Queima — Ana Frango Elétrico (2018)

Acordes desproporcionais, psicodelia e uma produção que beira o lo-fi, Mormaço Queima, álbum de estreia de Ana Frango Elétrico, é um verdadeiro emaranhado de referências e de identidade própria que revela algumas músicas momentaneamente ajustadas ao verão. Um disco para evitar a insolação; ouça na sombra.

26. Caro Vapor / Vida e Veneno de Don L — Don L (2013)

Caro Vapor / Vida e Veneno de Don L são várias faces de Don L em um só projeto. Nesta mixtape, ele mostra o motivo de ser um dos nomes mais diferenciados da cena.

25. Efêmera — Tulipa Ruiz (2010)

Efêmera é um marco da pós-MPB. Tulipa Ruiz junta incríveis fragmentos narrativos e sonoros do que a música brasileira explorou em sua história, e faz disso, a sua melhor obra até hoje.

24. Pq — Saskia (2019)

Saskia constrói, sob camadas e texturas eletrônicas consubstanciadas por um certo imediatismo, algumas de suas posições e narrativas mais inteligentes que vão além do questionamento, como se a dúvida fosse a resposta para tudo.

23. Azul Moderno — Luiza Lian (2018)

Luiza Lian aborda uma série de temáticas que parecem ganhar vida ao longo da explanação dela como artista. Azul Moderno mistura amores e decepções, existencialismo e religião. É, ao todo, um registro inigualável.

22. Partir — Nuven (2016)

Apesar da espontaneidade, Partir, do produtor paulista Gustavo Teixeira, conhecido como Nuven, é primorosamente sentimental. Na obra, banhada no melhor do IDM ao estilo brasileiro, com contemplações meditativas e samples que instigam uma atmosfera cheia de reciprocidade, persistem a felicidade, a tristeza e a paixão. É forte o dom do artista em transmitir tudo isso através de seus toques mais persuasivos.

21. Regina — niLL (2017)

niLL se posta diante de rimas e versos carregados de introspecção, Regina, disco mais acertado do artista, expele uma dezena — ou mais — de sentimentos e sensações das quais representam, em seu lirismo máximo, como se dão as relações e as vivências sob um ponto de vista íntimo e verdadeiramente delicado.

20. Filha de mil mulheres — Clau Aniz (2018)

Filha de Mil Mulheres é quase clássico, ou seja, surge como uma obra que contém conteúdo suficiente para soar ajustado ao turbilhão de elementos sobrepostos da música brasileira ao longo da década. Clau Aniz sabe de tudo isso e por o fez.

19. Niños Heroes — Negro Leo (2015)

Fragmentos narrativos ora emprestados de suas referencias ora devolvidos como suco gástrico do estomago musical brasileiro, Niños Heroes é a mais provocativa e estimulante obra de Negro Leo na dedada de 2010. São momentos de gritaria, sons ruidosos, constante mistura de jazz com rock a lá vanguarda paulista que definem um maximalismo verdejante e desproporcional — escolhas estéticas que berram o tempo inteiro.

18. Duas Cidades — BaianaSystem (2016)

Em um registro que simboliza toda energia do povo brasileiro, o segundo disco do BaianaSystem surge com força ao trazer importantes mensagens políticas, usando de uma atmosfera criativa e de uma mistura surreal dos elementos presentes em cada gênero referenciado aqui.

17. Metá Metá — Metá Metá (2011)

Objeto essencial da música brasileira do século 21, a estreia do Metá Metá é um exemplo representativo único do período coordenado pela banda como um dos momentos musicais mais inovadores da década. Não à toa: aqui estão os principais métodos linguísticos (líricos, musicais) utilizados por Juçara Marçal, Thiago França e Kiko Dinucci em suas substanciais experiências com o chamado samba torto.

16. Action Lekking — Negro Leo (2017)

Não há maior abstração de significados do que o discurso. É por isso que em Action Lekking Negro Leo deixa de lado as difusões sonoras de suas obras como Niños Heroes para dar lugar às suas composições mais inteligentes e assustadoras.

15. Pedra Preta — Teto Preto (2018)

Pedra Preta é um resumo cheio de vida da noite paulistana. Coletivo, criado a partir das festividades da conhecida Mamba Negra, reúne elementos que condicionam uma afeição subversiva e, às vezes, difícil de ser consumida. É um álbum que chama atenção pelo tom noturno e puramente vanguardista.

14. A Mulher do Fim do Mundo — Elza Soares (2015)

A Mulher do Fim do Mundo representa, além de toda luta, a renovação da música brasileira que por muitos anos ficou sem um disco de destaque como esse. Elza, notoriamente, cantou para todas as gerações que se inspiraram nela.

13. Quebra Azul — Baleia (2013)

A mistura condescendente do pop com rock, jazz e outras infinitas combinações que preenchem a música brasileira, fazem de Quebra Azul um dos referenciais mais exatos de como se iniciou a pós-MPB.

12. Levaguiã Terê — Vitor Araújo (2016)

Em seu segundo álbum, o pianista pernambucano Vitor Araújo surge com composições próprias inspiradas em grandes nomes da música. Ele vai de Björk à Radiohead e produz, com base na sua vivência pessoal e artística, um disco orquestral e que expõe, no eixo diferenciado do seu gênero de origem, uma representação justa e adequada da música clássica contemporânea e tupiniquim.

11. A Salvação é Pelo Risco — o Show do JOCA — JOCA (2019)

A Salvação é Pelo Risco — o Show do JOCA não exige classificações. Embora faça parte de um cenário específico, o hip hop consciente, salvo algumas exceções, o álbum de estreia de JOCA está longe de corresponder exatamente a uma única vertente. É, no geral, uma ampla mistura de música eletrônica, música acústica, lo-fi e mais uma dezena de direções atmosféricas que traduzem, através de um lirismo prazeroso e sofisticado — mas afiado –, o cotidiano e a vida nos trópicos.

10. Outro Lugar — Tetê Espíndola (2017)

Em Outro Lugar, Tetê Espíndola funde a música sertaneja de raiz com aspirações folk progressistas, comunicando muito bem as bases tradicionais de uma obra cuja composição remonta à poesia de seus trabalhos que marcaram a década de oitenta em perfeita harmonia com a atualidade. É um disco que chama a atenção pelo tom confessional, apaixonado e ambientado no paralelo doce e imaginativo da artista que se guia por melodias e texturas únicas.

9. O Cão de Toda Noite — maquinas (2019)

Ferozmente combinado entre arestas de rock e jazz, O Cão de Toda Noite é uma das obras de música experimental mais definidoras da música brasileira na década de 2010. São longas tomadas que passeiam pelo lirismo poético e pela sonoridade em constante ruptura, ambos os caminhos projetados sob uma visão assustadoramente única.

8. Pajubá — Linn da Quebrada (2017)

Como um mar revolto, Pajubá destrincha cada sílaba e som circunstanciado pela poesia de protesto tomada pela verdade absoluta de Linn da Quebrada. Um álbum que expele vivência e manifesta, sobretudo, uma visão de sociedade necessária.

7. Lodo — Bemônio (2014)

Assustador, Lodo é uma viagem sensorial pelos estigmas propostos, às vezes distantes da realidade, por diferentes aspectos da religiosidade como ação desencadeadora de temor na vida humana. Bemônio, então, parece disposto a contradizer dogmas, a revirar a ausência e propor o divino de outra forma. É genial.

6. Ruim — Chelpa Ferro (2015)

Ruídos, distorções, glitchs e a amplitude completa do silêncio são, em sua maioria, ajustes precisos de Chelpa Ferro em Ruim, álbum que evita permear estruturas — até mesmo para o diálogo da música brasileira com aspectos eletrônicos experimentais — ao criar um ambiente online cuja quebra da expectativa revela muito mais do que apenas o som. “Endoplanetas”, penúltima faixa do disco, ecoa sua abstração por quase doze minutos ininterruptos, como se caminhasse em direção a um drone que logo perde a paciência na música seguinte. É um épico.

5. Encarnado — Juçara Marçal (2014)

Mergulhada nas profundezas de canções e arranjos desordenados, Juçara Marçal apresenta um dos trabalhos mais ricos da nova geração da música popular brasileira. Encarnado segue uma proposta experimental muito bem executada, colocando entre planos, uma estreia solo exuberante com tudo o que há de melhor na cena nacional durante a década de 2010.

4. MetaL MetaL — Metá Metá (2012)

Com arranjos que esbanjam catarse pura, o álbum de estreia da banda Metá Metá surge em um cenário de reinvenção na música popular brasileira e consegue, com isso, estabelecer algumas peças das quais ao longo da década de 2010 foram responsáveis pela nova frente da vanguarda paulista, representando, como nenhum outro nome, a atual conjuntura da cena nacional.

3. Little Electric Chicken Heart — Ana Frango Elétrico (2019)

Tomado por arranjos e elementos dos quais acabam dificultando um enquadramento do que ele realmente é, Little Electric Chicken Heart reflete o trabalho de Ana Frango Elétrico como escritora, em que ela parece encaixar suas poesias envoltas do “paralelismo miúdo” em cada faixa e som resgatado em uma viagem no tempo. Tais fragmentos de arte fazem o álbum finalmente ganhar forma, tal forma pode ser definida como uma bossa-pop-rock-decadente com pinceladas de punk, tudo cortesia do principal nome que se revelou na pós-MPB.

2. Tropix — Céu (2016)

Tropix resgatou o brilhantismo poético e a experimentação que fez da MPB, aos moldes clássicos, um dos espaços mais criativos da música na sua abertura contemporânea. Neste registro, Céu expande os horizontes do amor e cria, entre sintetizadores e composições viciantes, uma obra que perpassa os sentidos mais empíricos da sua base artística — imortal e atmosfericamente único.

1. Anganga — Juçara Marçal & Cadú Tenório (2015)

Anganga é o passado e o presente da música brasileira. Juçara Marçal e Cadú Tenório se unem em uma obra que transcende os simbolismos incrustados na cultura que gira em torno do som, supostamente, adequado às décadas de colonização. Aqui, as músicas se dividem entre composições autorais da dupla mas, essencialmente, cantos indígenas que recebem tratamentos diferenciados sob a produção desconcertante de Tenório, que aliada à interpretação de Juçara, impõe presença e força ao processo de construção do disco. É uma obra que causa arrepios e, entre algumas das experimentações mais inusitadas da década, acende a chama do tempo como se esta tivesse, de alguma forma, chamado a atenção para a floresta — ambiente construído sob arranjos e texturas noturnas — que, por sua vez, é o espaço em que tudo se dissipa e depois acontece individualmente na consciência de cada um.

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Maqtheus

Graduando em Letras, 23 anos. Textos para os sites Suco de Mangá, VHS CUT e Aquele Tuim.