Os melhores discos de 2023

Uma lista com Ana Frango Elétrico, Caroline Polachek, Kelela, dadá Joãozinho, Tim Hecker e mais!

Maqtheus
27 min readNov 25, 2023
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2023 foi o ano das descobertas. Se 2022, no âmbito musical, foi o ano em que se estabeleceu a normalidade após o período pandêmico, 2023, por sua vez, abriu a cortina a novos talentos e novas obras que chamaram a atenção pelo conteúdo de inovação e interesse justapostos num período de reconciliação coletiva com o nosso passado — que não é tão distante assim. Há, em cada obra aqui elencada, um traço de descoberta ou redescoberta, inclusive da minha parte. Do emblemático retorno de Caroline Polachek com um disco já muito clássico, ao triunfo de Kelela com a sua inexplicável persuasão musical, passando pelo reconhecimento do funk com nomes como DJ K, DJ RaMeMes e DJ Ramon Sucesso, apresento-vos os meus 50 melhores discos de 2023, a partir de uma seleção que incluiu mais de 400 registros lançados entre 25/11/2022 e 25/11/2023.

Seguindo a seguinte ordem, você notará que as posições são compostas pelo nome do disco e depois pelo nome do artista, e entre colchetes estão os gêneros, definidos de acordo com as qualificações sonoras, musicais e de consumo características de cada obra.

50. SOS — SZA [Pop, R&B Contemporâneo]

“Se eu não posso ter você, ninguém vai / Eu poderia matar o meu ex, não é a melhor ideia”, canta SZA em “Kill Bill”, uma peça que se destaca pela sinceridade agridoce da qual a artista parece fincar as suas bases. Em outro momento, contrário a este, ela desabafa: “Eu costumava ser especial, mas você me fez me odiar / Me arrependo de ter mudado”. Essas diferenças narrativas percorrem o disco inteiro, de formas e maneiras distintas — coisa que SZA parece trabalhar muito bem. SOS é, além de um gigantesco esforço de SZA em dar continuidade aos seus incríveis lançamentos, uma pura demonstração de força, resiliência e, sobretudo, de honestidade.

49. Bones For Time — Tongue Depressor [Drone]

Dividido em quatro partes de 20 minutos cada, Bones For Time expressa, entre harmonias ritualísticas e afinações xenoarmónicas, a mais livre percepção filosófica de Rowden e Birdsey, que juntos desenham uma das melhores peças de drone do ano. É uma obra que não teme vangloriar sua conquista dos inúmeros detalhes sobrepostos pela produção e que parecem, na maioria das vezes, densos demais. Esse é o ponto mais brilhante trabalhado pelo Tongue Depressor como conjunto.

48. Quelque chose s’est dissipé — Audrey Carmes [Ambiente]

Construído através de sintetizadores e fragmentos de palavras faladas, Quelque chose s’est dissipé tem produção documentada, ou seja, discute os desejos de Carmen, soando como uma expansão de seu pensamento. Não é à toa que ela descreve a produção do álbum como um processo de cura. Em destaque, nesta cura insaciável de quem o fez e de quem o consome, estão as canções “Tout est déjà là’’ e ‘‘La fin du film’’. E, por mais espesso que pareça nas margens, Quelque escolheu s’est dissipé é incrivelmente solar.

47. farra farra (montagens e trilhas) — Cajupitanga [Experimental]

Descrito como um projeto descontraído, farra farra (montagens e faixas) pode até tentar mostrar um distanciamento das formalidades, mas sua síntese musical é carregada, por si só, de inúmeros filamentos sonoros e possibilidades que preenchem a barreira aqui idealizada pelos autores. É por esta incursão em soar acessível para que possamos imaginá-lo divertido, que acabamos por ser capturados pelas surpresas reveladas logo nos momentos iniciais. Pode ser facilmente descrito, entre tantas coisas, como uma armadilha do bem.

46. Get Up — Newjeans [K-pop]

O segundo disco do NewJeans é um caso extremamente singular de se observar; às vezes irreplicável e tão único quanto qualquer coisa que temos hoje. Aqui, vamos além de uma boa produção, refrões viciantes ou marketing sem igual. Também vamos além da estética e do estilo — precisamos chegar ao objetivo. E sobre isso, Get Up tem uma intenção muito clara: expor como um grupo fora das convenções consegue soar inovador e refrescante sem deixar de lado o apelo comercial. E não há equívocos nessa proposta, o disco privilegia sua ida aos monólitos do k-pop para dizer que isso aqui é revolucionário na mais absoluta certeza do termo.

45. mini makina handbang v1 — ICQ BABY [Eletrônica]

Estritamente divertido, mini makina handbang v1 só faz sentido para quem vê a música eletrônica como uma possibilidade de expansão de domínio musical, e não apenas como gênero oriundo de exposições sintéticas. Por isso que em determinados momentos, o reconhecimento e a afinidade que temos com a obra, principalmente por conta de algumas peças já conhecidas pela cultura de mídia online, soa tão incrivelmente próximo — e palatável — que fica impossível não se ver contagiado com tamanha proporção de divertimento. É lúdico e, sobretudo, degustativo.

44. Love Hallucination — Jessy Lanza [Eletrônica]

Love Hallucination não esconde sua intenção de aprovar o prazer como fonte de inspiração. Mas aqui, é o duplo sentido do termo. Primeiramente, a artista exclama o contexto da obra, produzida em seu novo endereço em Los Angeles, local que aumentou sua confiança em explorar seu próprio espaço. Definição de satisfação pessoal e profissional. Em seguida vem ele: o prazer carnal. Aquele que nos faz cometer loucuras, subir pelas paredes e dançar a noite toda como se fosse um instinto de acasalamento animal. Love Hallucination é quase isso — seus arranjos eletrônicos são capazes de tecer um club atmosférico dilacerador. Como na sequência “Don’t Leave Me Now”, “Midnight Ontario” e “Limbo”.

43. Hot Plate Only — Honestly Same [Eletrônica]

Obra do coletivo Honestly Same, de Chicago, Hot Plate Only dispensa a expansividade de trabalhos banhados em música eletrônica; suas melodias e texturas são contidas e misturadas entre o uso de instrumentos orgânicos — com improvisações acústicas — e mutações sintéticas que mesclam micro sons com música ambiente e percussão. É um grande exercício teórico e pratico sobre como o som e toda sua carga geracional transcoada, de maneira técnica ao longo dos anos, ainda consegue render boas iniciativas ante a desvalorização estética dos gêneros aqui representados através do experimentalismo eletrônico.

42. 7 Estrelas | quem arrancou o céu? — Luiza Lian [Pós-MPB, Experimental]

Disco sobre conexões e sociedade, 7 Estrelas | quem arrancou o céu? é uma excelente sequência na carreira de Luiza Lian. Anteriormente, a artista havia lançado o elogiado Azul Moderno, de 2018. Dos anos que o separam de 7 Estrelas | quem arrancou o céu?, nota-se que muita coisa mudou, não só na carreira de Luiza, mas na sociedade como um todo. E, embora não pareça, esse tema sempre esteve encapuzado, propositalmente, nas canções dos outros discos dela. É um risco tentar observar e descrever como as coisas eram e como elas estão, por isso o álbum busca manter viva a intenção da artista de pincelar sua narrativa por fragmentos — aqui, feitos de pura poesia.

41. Suntub — ML Buch [Experimental]

Suntub, de ML Buch, trabalha com a guitarra como elemento chave, mas para alcançar resultados brilhantes, a artista procura afinar a sua sonoridade recorrendo a melodias eletrônicas e que não apenas delineiam e dão substância ao trabalho, mas também empregam pujança do início ao fim. É uma obra que constitui, ao invés de desmembrar, os estilos que permeiam o tempero árido e acalorada das cordas de metais usadas como alicerce. É como se, para dar vida ao dream pop e trip hop, ML Bush buscasse distorcer sua própria concepção eletrônica. E num passe de magica — um esforço quase impensável — isso tudo finalmente se concretiza.

40. 1 Beat 1 Letra — MC Hariel [Funk Paulista]

Para além de questões mercadológicas, 1 Beat 1 Letra mostra que MC Hariel está, mais do que nunca, disposto a revolucionar o funk como nenhum outro nome. Ele comanda, como ninguém, a implementação de algo novo e refrescante, partindo de batidas, letras e todo um conjunto de fatores que ultrapassam o sentido convencional do gênero. Hariel faz isso enquanto preserva a essência do funk paulista e transforma este espaço, na sua maior vivência.

39. 12 — Ryuichi Sakamoto [Modern Classical]

O último álbum lançado por Ryuichi Sakamoto em vida é sobre seu processo de cura de um câncer, o mesmo que lhe tiraria a vida semanas depois. Um verdadeiro gênio, Sakamoto teve uma carreira brilhante no que se refere aos gêneros e vertentes mais interessantes — numa classificação de exposição — da música eletrônica. Famoso por suas peças que ajudaram a moldar o gênero, ele ficou conhecido por representar, em grande parte do contexto musical asiático, as infinitas possibilidades de modulação sonora entre o orgânico e o sintético. 12 foi sua última contribuição para isto, trágica e assustadoramente interessante, é uma das obras mais importantes de 2023.

38. Everything is noise, Organized noise — Union Warp [Experimental]

Tomado por ruídos, Everything is noise, Organized noise é a maneira mais inteligente que o projeto Union Warp, de São Paulo, encontrou para expor as suas convicções sobre a música eletrônica nas suas diferentes formas. Aqui, a não linearidade dos arranjos e das melodias é o cartão postal da viagem programada ao longo das seis faixas. Curiosamente, cada uma delas apresenta algum elemento — ou remanescente, que restou — do que parecem ser campos distintos daquilo que o Union Warp considera importante na música eletrônica com aspirações experimentais.

37. Supernormal Kids Party — Supernormal Kids [Experimental]

Gravado durante o Supernormal Festival 2022, festival de música experimental em Oxfordshire, Supernormal Kids Party reúne os vocais de diversas crianças de diversas idades, captados e organizados de forma livre. É, talvez, um dos poucos materiais em 2023 que melhor resume a despretensão do significado utilitário que a música — erradamente — está condicionada a ter por meio do capitalismo.

36. Romantic Piano — Gia Margaret [Ambiente]

Há muita beleza em exposição em Romantic Piano, terceiro disco de Gia Margaret. Através de belos acordes de piano e de uma atmosfera que ultrapassa o silêncio do cotidiano, a artista encontra a sua própria forma de se opor à solidão. O grande pulo do gato — por assim dizer — é a história que cerca a idealização dessa busca pessoal da artista em desbravar o silêncio. Ao promover seu álbum de 2018, There’s Aways Glimmer, em turnê, Gia Margaret perdeu a voz. Depois disso, ela tentou inúmeras maneiras de neutralizar sua posição como vocalista. Mas foi só agora que, ao compreender que a música e a arte de fazê-la não são precisas e muito menos seguem uma fórmula, dependendo portanto de apenas um elemento, é que a sua capacidade de narrar histórias ganhou finalmente uma nova forma.

35. Isolationism — Carlos Ferreira [Drone, Experimental]

Instrumentista experiente, Carlos Ferreira utiliza acordes vivos de guitarra, acompanhados de piano, órgão de tubos, clarinete e gravações de campo usadas para aumentar o sentido de sua busca por recompor ambientes na perspectiva de uma experiência sentimental endógena. O resultado da combinação de todos esses fatores é uma atmosfera carregada positivamente. Aspecto que, em partes, pode se assemelhar com Everything We Knew Was Wrong, outro disco lançado pelo artista em 2023. É interessante notar que, em ambos os casos, é perceptível a persuasão de Carlos em avançar com seus experimentos baseados no Drone — que tem algumas de suas características modificadas pela adequação proposta por artistas brasileiros, e que parece responder bem a esses estímulos, como vemos aqui.

34. Echoes — Fire! Orchestra [Avant-Garde Jazz]

Echoes, sétimo disco da orquestra formada através do supergrupo Fire!, encabeçado por Mats Gustafsson, tem como sentido principal a exploração da contemporaneidade sob perspectivas ainda enraizadas na música clássica. Fato é que, embora composta por 43 membros, a orquestra ainda segue em sintonia perfeita a par de aparelhos do avant-garde jazz e free jazz. Tal experimentação se mistura com a simbologia que uma orquestra tende a ter: é uma atmosfera rica e densa. Veja, por exemplo, como “Echoes: I See Your Eye, Pt. 1” consegue misturar muito bem o jazz moderno com a música clássica contemporânea. Faz isso, ainda mais, diante de experimentações que percorrem o disco todo. É uma imensa aptidão musical.

33. Sem Limites — DJ RaMeMes (O DESTRUIDOR DO FUNK) [Experimental, Sound Collage]

Claro que olhar para Sem Limites e não recorrer a repercussão de DJ RaMeMes após a participação dele no Noitada, de Pabllo Vittar, seria um erro. Mas além disso, este projeto é fruto de seu trabalho incansável como DJ e produtor. Já passou da hora de vermos o funk brasileiro como um produto fiel às origens da música eletrônica experimental no cenário nacional. E o que o RaMeMes faz aqui é exatamente isso. Primeiro, seu trabalho com os infinitos mashups e samples são, por si só, a grande ideia de como representar o funk diante do estilo e estética do gênero. Aqui, ele vai do mandelão e dos 150 aos 170 bpm de forma astuta e por vezes nostálgica.

32. Never Going Home — CFCF [Eletrônica]

Concebido em um intervalo de tempo de quase 6 anos, a sequência de singles do produtor CFCF, Never Going Home, é uma das melhores abreviações das pistas de dança em 2023. Contrariando qualquer impressão a respeito da suposta — e enganosa — ideia de facilidade nas produções dance/eletrônicas, CFCF busca ir além do óbvio. Never Going Home, então, oscila entre ambiente, dub techno e house progressivo. Em faixas de dois e até nove minutos de duração, ele expande as impressões do chamado braindance, ou IDM (Intelligent Dance Music) que colecionou ao longo dos anos durante suas apresentações. Para ampliar ainda mais o repertório, ou torná-lo mais atrativo, CFCF contou com a ajuda robótica do vocaloid Troy. É uma de suas peças mais divertidas.

31. Birdy Bell — SUCHI [Eletrônica]

SUCHI é uma excelente contadora de histórias, embora Birdy Bell desafie as normas ao fazê-lo sem depender de aspectos narrativos mediados por vocais, ou seja, ela não precisa realmente cantar para dizer que seu trabalho atravessa barreiras locais — físicas ou não — com a intenção de alcançar um status de linearidade. Aqui notamos influências regionais de cada lugar por onde SUCHI passou, como Oslo, Londres, Deli, Nova Iorque e, atualmente, Manchester. E, apesar de curto, Birdy Bell é simbolicamente intenso e pronto para dilacerar qualquer um nas pistas de dança — conclui-se como música eletrônica que acerta ao se manter na média do gênero; nem muito superficial e nem muito profunda.

30. Something To Give Each Other — Troye Sivan [Pop]

Momentos como “Can’t Go Back, Baby” e “In My Room” parecem repousar o ouvinte na suavidade lírica e orquestral de elementos delicados e puramente agradáveis — talvez esta seja a palavra definidora, pois mesmo diante das adversidades melódicas, ora agitadas e ora lentas demais, Something To Give Each Other em momento algum soa incômodo. Há, no entanto, uma permanência de tendências que perpassam a obra, músicas dance-pop que emprestam batidas rápidas em momentos estratégicos, como na sequência “Silly” e “Honey”. É uma sinfonia pop completa, que diz muito sobre os altos e baixos de um artista descobrindo e expondo o mundo ao seu redor, além de ser tocante e divertido ao mesmo tempo.

29. Out of the Playground — Alessandra Rombolà [Experimental, Electroacoustic]

Em Out of the Playground, a flautista Alessandra Rombolà se desprende da realidade para compreender o tempo. Sonoramente reflexivo e abundantemente entorpecido por instrumentação variada, o álbum mostra que o parquinho infantil, muitas vezes ignorado por nós depois que nos tornamos adultos, guarda muitas das nossas experiências importantes do passado. É uma ideia interessante, referenciada através de uma descrição que, à primeira vista, parece boba. Mas é precisamente esta simples conceptualização que faz de Out of the Playground um grande sucesso. De salientar, através do sucesso criativo em que tudo se condensa, o imenso processo colaborativo que incluiu diferentes artistas (Daniela Terranova, Jan Martin Smørdal, Ingar Zach e Lasse Marhaug) cujo propósito, entre tantas coisas, foi essencialmente o de empregar robustez ao longo da órbita do disco, o que deu muito certo.

28. Nekkuja — Marina Herlop [Eletrônica]

Parte do processo de pensar sobre arte está na imaginação. Não que a concretude desta ação seja indispensável, muito pelo contrário. É por isso que Nekkuja foi concebido por entre os ombros do que é real e do que não é. E, diferentemente de seu antecessor, Prypiat, Nekkuja é mais intrinsecamente acessível, com grande parte de suas texturas eletrônicas sendo guiadas pelos vocais fantasiosos de Marina e não o oposto — uma diferença substancial se compararmos a utilidade da necessidade de mixagem entre som e voz.

27. *1 — Rắn Cạp Đuôi [Experimental]

O maximalismo de Rắn Cạp Đuôi em *1 ganha mais sentido com as intensas colagens e desconstruções que, no contexto da música experimental do continente asiático, se revela com um sublime destaque de sofisticação. Contudo, este trabalho não trata apenas de um material disponibilizado pelas arestas de um contexto que pode soar dispensável para muitos; Rắn Cạp Đuôi é muito mais que isso. Desde o início, o coletivo, formado em 2015, tem trabalhado continuamente para estabelecer uma nova visão da música de vanguarda em Saigon, no Vietnã. E, através de exposições e performances — algumas que duraram mais de 48 horas ininterruptas — não se pode dizer que eles não tiveram sucesso. Por esta razão, *1 deve ser pensado como uma demonstração crua do trabalho do coletivo. Não é, portanto, um álbum solto lançado por acaso. É uma das várias documentações musicais de 2023.

26. Unlikely Places — Awakened Souls [Ambiente]

Como sugere o título, Unlikely Places tem sua objetificação criativa baseada na ideia de que a arte pode ser encontrada em qualquer lugar, até mesmo nos locais mais indesejados. É fantástico porque não só transmite muito bem essa compreensão, como também nos faz refletir sobre o quão fugazes somos neste plano físico, imenso e pouco palatável, e que por vezes é impossível de ser explorado. Obra do projeto awakened souls, formado por James Bernard, produtor já conhecido no cenário da música eletrônica, e Cynthia Bernard, o disco é uma pesquisa bem fundamentada tanto sobre as técnicas aqui utilizadas quanto sobre sua temática, que se baseia em uma percepção humana para poder atingir seus efeitos. Claro que, a nossa compreensão espacial e geográfica também servem de apoio para os artistas, mas o que eles fazem neste registro, em específico, é trabalhar de acordo com uma visão utilitária extremamente positiva acerca de onde a arte reside.

25. Panico no Submundo — DJ K [Experimental, Beat Bruxaria]

PANICO NO SUBMUNDO é mais um disco comprometido com a missão de elevar o nível artístico do funk em sua esfera de eventos alucinógenos — ainda que essa seja uma motivação pouco definitiva na cena. Apesar disso, o movimento é o mesmo: explorar o maximalismo do funk paulista sem a retórica do gênero. Ou seja, trazer a potência eletrônica à sua maneira, a partir de influências outras que não as fornecidas por DJs dispersos do epicentro da fusão, como os que usam o funk de maneira preponderantemente higienizada. Ao se esquivar dessas cifras, que representam um padrão recorrente, DJ K e outros nomes da cena paulista ganham ares próprios. É por isso que seu som soa tão transcendental e, acima de tudo, extremamente vanguardista.

24. Pena Ao Mar — Carla Boregas [Drone]

Num ano em que o drone teve o retorno de seu melhor representante, o canadense Tim Hecker, a brasileira Carla Boregas consegue — e muito bem — deixar suas marcas. Pena Ao Mar recorre à contemplação do gênero, mas sem soar redundante. É como se Carla estivesse pronta para apresentar sua formação, trazendo referências do gênero e construindo suas próprias marcas. Por ser seu álbum de estreia, Pena Ao Mar soa como um encontro das principais técnicas da artista, como a ênfase nas texturas e a sensorialidade meditativa que se repete aos montes e força um efeito justamente instigante. É um começo — mesmo que não seja o início de sua carreira — que a prepara para um futuro brilhante na representação da música experimental em solo brasileiro.

23. Orbs — Anthony Naples [Eletrônica]

Em seu quinto álbum de estúdio, Anthony Naples recorre ao ambient techno para criar algumas de suas melhores texturas musicais. Embora repleto de variações rítmicas computadas através de alguma sinalização orgânica, Orbs ainda tem seus momentos de calmaria. Talvez a intenção de Naples seja justamente fundir estas duas variáveis, visto que a sua carreira sempre considerou cada uma destas expressões individualmente. Lançado em um intervalo de quase dois anos, Orbs é um retorno meticulosamente equilibrado, feito para se encaixar perfeitamente na nova fase de um nome que parece se superar a cada novo trabalho.

22. Sexta dos Crias — DJ Ramon Sucesso [Experimental, Funk Carioca]

Sexta dos Crias acerta ao recapitular a concepção que DJ Ramon Sucesso emprestou a outros DJs. Aqui, o instinto roubofônico do funk ganha espaço entre peças épicas de 15 e 17 minutos, movido pelo beat bolha e pela liberdade intrínseca de Ramon em revelar sua importância no desenvolvimento do gênero. Depois de abrir caminho para o experimentalismo no funk, ele lança seu projeto mais importante até o momento, destacando seu exímio cepilho artístico.

21. GOOD POP — PAS TASTA [Hyperpop]

GOOD POP é mais uma das diversas manifestações do hyperpop que, após o boom no Ocidente, encontra novas formas e caminhos para se desenvolver no continente asiático. Mas, diferentemente de se basear no gênero apenas em termos de sonoridades plastificadas, PAS TASTA o faz com determinação, criando algo distante daquilo que, comumente, é feito. Essa proposta é refletida através do viés aliado do pop japonês que o grupo assume em sua obra. Sendo, então, a junção perfeita do j-pop com a experimentação eletrônica do hyperpop aos moldes contrários daquilo representado por nomes da PC Music, por exemplo.

20. No Highs — Tim Hecker [Drone, Electroacoustic]

Estudo da precisão de sua técnica essencial em tecer atmosferas repletas de singularidade, No Highs, de Tim Hecker, é uma de suas obras mais simbólicas — e reflexivas — até hoje. E, para quem não vê variação na música ambiente, No Highs deixa sua mensagem através de texturas orgânicas, ritmando melodias de saxofone com takes eletrônicos que geram diferentes nuances em sua mensagem de monotonia convidativa. Ciente disso, Tim Hecker procura evitar alguns de seus maneirismos, como o piano sombrio de seus trabalhos anteriores. No Highs tem, portanto, um ritmo mais invertido e por isso soa tão acessível quanto tudo o que o artista já fez.

19. Love Has Never Been a Popular Movement. — Tygapaw [Eletrônica, Ballroom]

As pistas de dança são muito mais do que apenas um local de curtição para o jamaicano radicado no Brooklyn Dion McKenzie, conhecido como Tygapaw, que em seu mais recente álbum, love has never been a popular movement., explora os espaços de identificação da sua identidade trans e a maneira como o mundo o vê. É uma obra densa que percorre o techno, o club e o jungle postados no melhor da música eletrônica.

18. Broken to Echoes — Chantal Michelle [Experimental]

Registrado durante a estadia da artista em Nova Iorque, Broken to Echos é assustadoramente familiar. Chantal Michelle atua como grandes nomes do ambiente: captando sons por onde passa e depois criando música. Este sentimento é regido por um propósito universal de criação, mas que aqui, é puramente pessoal, contando com a dedicação da artista em criar algo de sua própria autoria. Mas, embora pareça simples, a dinâmica de construção de Michelle é bastante complexa, ainda mais considerando a sua decisão de evoluir estética e sonoramente de onde havia parado. Neste ponto, Broken to Echos soa, inclusive, como uma resposta direta e concisa sobre sua arte.

17. Atlas — Laurel Halo [Ambiente, Modern Classical]

A intensa carga acústica de Atlas não é apenas uma simples demonstração da capacidade de Laurel Halo em compor cenários. Esse quase vazio é uma construção à parte da forma como ela e seus produtores conseguem desenvolver o espaço onde o ouvinte precisa entrar. É a partir desses indícios que a experiência de modelar a música concreta, com uma certa dinâmica de utilização da abordagem mais acessível possível ao gênero, consegue concretizar seus simbolismos artísticos. Todas estas especificações realçam a consistência do ambient que se entrelaça através da narrativa interposta em momentos de verdadeira contemplação.

16. Javelin — Sufjan Stevens [Indie Folk]

Os melhores traços da sinceridade de Stevens estão em suas obras mais pessoais. Em Carrie e Lowell, o maior exemplo de todos, a comovente narrativa sobre a morte de sua mãe fez com que sua escrita precisa e suas emoções nada universais ganhassem consciência própria. Porém, o trabalho do artista nem sempre foi feito apenas de tristeza. O amor, ou a ausência dele, no que confere a exposição do apaixonar-se pelas nuances do ser, foram marcas da melancolia e do sofrimento embelezado — auto reverenciados — que o artista procurou manter nas suas abordagens. Javelin, como um retorno à sinceridade de Stevens, expõe isso. Dedicado ao ex-companheiro, falecido no início do ano, o álbum contém os mais vívidos espectros de arte relacionados à personalidade de alguém que, há muito tempo, vem construindo um portfólio devastador no melhor dos sentidos.

15. 06 06 16 (St. Elisabeth Kirche, Berlin) — Marginal Consort [Experimental, Minimalismo]

Registro da primeira passagem do coletivo Marginal Consort na Alemanha, 06 06 16 (St. Elisabeth Kirche, Berlin) é um testemunho vivo da profunda ebulição do improviso. É um épico de três horas que expõe com naturalidade a pujança dos artistas envolvidos em sua criação. Dividida em três grandes atos, sendo o último o mais intrigante de todos — e também o mais impressionante, com elementos que remetem ao horror — , a obra tem o poder de perfurar os espaços mais densamente povoados pela música em seu formato comercial. Ou seja, a dimensão artística expressa através dos inúmeros vestígios sonoros, disparos eletrônicos e ruídos aqui utilizados de forma surreal, não cabe em nenhuma classificação simples. Este é um dos raros casos em que o sentido empírico da arte na música se expressa com aptidão e clareza.

14. Raven — Kelela [Eletrônica]

O prazer de acompanhar a carreira de um artista, de entender sua evolução, de observar suas mudanças pessoais e artísticas, é uma sensação estritamente única e que remete ao prazer de qualquer fã ou admirador em ver que seu ídolo está no caminho certo. Para muitos, Raven, de Kelela, traduz justamente esse sentimento. O segundo álbum da artista é uma continuação duradoura do seu impacto na cena alternativa. Mais do que isso, é uma reafirmação do quão determinada ela está em construir uma discografia extraordinariamente interessante. Misturando seu estilo único que condensa música eletrônica, ambiente e R&B, Kelela não tem medo de soar sincera em seus temas ou em suas escolhas. É por isso que Raven, mais do que um apontamento assertivo de sua trajetória, é também uma obra formada pelo compromisso de sua autora em permanecer relevante ao longo do tempo.

13. ESPANTA GRINGO — d.silvestre [Experimental, Power Noise]

d.silvestre é um dos nomes mais reconhecidos por passear pelas margens do funk paulista e explorar seus limites às vezes agressivos demais. É uma forma diferente de transformar o produto — ou torná-lo mais diferenciado a partir de novas possibilidades. ESPANTA GRINGO, disco que vem na sequência de outras tentativas do artista de replicar seu conhecimento de bombear sangue pela pressão de batidas desconcertantes em 2023, é seu maior acerto até agora. Ele é assertivo porque está livre de intenções concretas; quase sem um senso de necessidade — além de romper com seu portfólio.

12. I Killed Your Dog — L’Rain [Experimental]

I Killed Your Dog é a expansão do dinamismo de L’Rain na composição de músicas que exemplificam sua ideia de mundo. Entre arranjos e melodias inesperadas, ela é especialista em surpreender. Taja Cheek pode ser um nome muito novo, mas sua música soa tão clássica e adequada à sua época quanto qualquer outro artista desta geração. Um dos maiores sinais do seu impacto na música experimental pode ser visto claramente nas suas canções que provêm de diferentes gêneros, embora mantenha constantemente as suas abordagens dentro de um aspecto de coesão. Essa facilidade em se transportar, em compor músicas que brinquem com a expressão da diversão, remete muito ao trabalho de Björk em Post, de 1995. Mas, diferentemente deste, I Killed Your Dog é menos óbvio na busca por diferentes nuances e provocações temáticas.

11. Wi-Fi da Floresta — Cronixta [Pós-MPB]

Wi-Fi da Floresta, de Cronixta, pretende revelar ao mundo como a união de fatores regionais ou suprarregionais — ou seja, a regionalização musical dentro ou fora do Brasil — consegue estabelecer novos vínculos culturais com uma nova exploração da música brasileira. Para isso, o artista utiliza referências musicais postadas em países caribenhos que, ao tocarem em solo brasileiro, se condensam aos múltiplos afetos musicais de Belém, do Pará, terra que não só emprega o regionalismo da obra, mas também condiciona grande parte do sentido buscado pelo artista em sua pesquisa de campo que inclui elementos latinos, amazônicos e nortistas.

10. Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua — Ana Frango Elétrico [Pós-MPB]

Me Chame de Gato Que Eu Sou Sua é a mais pura habilidade de entrelaçar o tempo — é divertido e prova que Ana Frango Elétrico é mais pop brasileiro do que muito pop brasileiro por aí. O imediatismo da comoção, que fala mais alto do que a própria intenção de referenciar com embasamento alguma característica mínima que seja, é completamente dispensado por Ana Frango Elétrico aqui, tal como já o tinha feito em Mormaço Queima e Little Electric Chicken Heart. Mas, diferentemente destes, seu novo disco não é uma busca permeada por quase viagens no tempo. Tudo o que é feito aqui está longe de ir além da realidade atual para poder trazer, mesmo nas entrelinhas, o requinte da nostalgia.

9. liminal moments — Neuro… No Neuro [Experimental, Microsound]

Centrado na ideia de viajar pelos espaços utilizando micro sons, liminal moments, de Neuro… No Neuro, tem exatidão em sua fórmula de expandir o minimalismo com atmosfera ambiente a fim representar alguns breves momentos que cercam sua produção composta por ondas quebradiças e sons online sintonizados por um dos melhores usos do Renoise em 2023. E, assim como outras obras do gênero, liminal moments depende quase exclusivamente de uma atenção extra, principalmente no que diz respeito às suas texturas — organizadas para criar um efeito que, em determinado momento, seja capaz de chamar a atenção do ouvinte. Ou seja, este não é o tipo de disco feito para que você retenha as suas nuances à primeira vista, sendo por isso necessário familiarizar-se com o que o artista tem para oferecer, mesmo que apenas em poucos minutos.

8. tds bem Global — Dadá Joãozinho [Experimental, Pós-MPB]

Estreia de dadá Joãozinho, tds bem global brinca com algumas ideias e estilos musicais interessantes, principalmente do pop brasileiro, como a Tropicália. Para isso, o artista usa de uma criação inconfundível quanto ao seu lirismo poético — que recupera os anseios estéticos da pós-MPB — e de sua sonoridade vanguardista que flerta com o jazz, a eletrônica, o reggae e o pop. Mas engana-se quem pensa que o material entregue pelo artista é uma bagunça. Embora utilize inúmeros elementos heterogêneos, dadá ainda encontra uma forma de expor sua coesão musical por meio de uma ambiciosa construção narrativa. É um dos grandes destaques brasileiros da recém inaugurada década de 2020.

7. Perceptible to Everyone — Eyes Of The Amaryllis [Experimental]

Gravado em diversos lugares remotos ao redor do nordeste dos Estados Unidos, Perceptible to Everyone tem como principal característica a exploração do som em seus lugares, momentos e situações que, para nós, não só passam despercebidos como também se tornam inusitados quando olhamos de perto. Diferente do que conhecemos no ambiente ou no drone — gêneros que tratam essa documentação da atmosfera e do ambiente de maneira ritualística — , o trabalho de Eyes of the Amaryllis é mais centralizado na crueza do som, sendo menos intrusivo o possível na captação de ondas, ruídos, conversas e tudo aquilo que, no ato de explorar ao redor, pode se tornar música. É um disco que esclarece os significados do que a música deve representar como arte. É um registro que se expande na imensidão do nada e do tudo ao mesmo tempo.

6. Fountain Baby — Amaarae [Pop, Afrobeats]

O pop renasce outra vez. Um aspecto que chama a atenção em Fountain Baby é a forma como Amaarae coloca em prática sua teorização sobre a música pop, a partir de suas referências que nos remetem diretamente ao berço da música contemporânea. A música com raízes negras funciona como o principal pilar de sustentação de muito do que é produzido hoje. Ao buscar evidenciar essa questão, é inegável que o álbum assume uma perspectiva de ressignificações, assim como fez Beyoncé em Renaissance. É definitivamente um dos melhores álbuns desta década. Embora complexo e inteligente, é acessível e extremamente pegajoso.

5. MIMOSA — cabezadenego, Mbé & Leyblack [Experimental]

MIMOSA é um projeto colaborativo entre os artistas Luiz Felipe Lucas (cabezadenego), com os beatmakers e produtores do Rio de Janeiro, Mbé e Leyblack. Lançado pelo selo QTV, um dos principais expoentes da música experimental em solo brasileiro, o registro é descrito como um “disco-manifesto sobre a potência dos ritmos afro-brasileiros”. E não é à toa. Aqui você encontra uma extensa diversidade de ritmos — mesmo que pareçam distantes entre si — interligados pela ideia de fazer um passeio pela música com raízes negras no cenário nacional. É interessante notar que, para isso, são utilizados alguns maneirismos, como a própria repetição do funk ou mesmo algumas distorções e fragmentos vocais que dão a ideia do álbum ser uma coletânea. Mas engana-se quem pensa que isso é ruim. Quando nos deparamos com um material como esse, a propriedade de quem o produz precisa ser levada em consideração. E nada mais justo do que ver esta síntese musical como um esforço genuíno para representar a evolução da música como produto artístico.

4. Aphorisms — Graham Lambkin [Musique concrète]

Gravado em Nova Iorque e Londres, Aphorisms marca o retorno do lendário Graham Lambkin à cena. O seu estímulo assenta na colagem de sons e na extensão sonora da sua intimidade assustadoramente cotidiana, sendo o disco descrito como um avanço na missão idiossincrática do artista. Na verdade, é um material que perpassa as declarações de Lambkin: são acordes de piano e intromissões marcadas por palavras faladas, respirações e ruídos decorrentes de gravações de campo. Mas há muito mais do que isso, são percepções que só podem ser notadas através da experiência, sendo esse convite, de mergulhar na obra, um dos pontos mais interessantes de todos. Aphorisms, portanto, fecha como um retrato fiel dos detritos musicais de Graham Lambkin; uma obra produzida contrapondo a estranheza de suas sobreposições atípicas.

3. Desire, I Want To Turn Into You — Caroline Polachek [Pop]

O desejo dói. Talvez, doa mais do que provoque sensações como prazer ou coisa do tipo. A todo instante, procuramos ver ou impor o desejo em tudo que fazemos ou no que amamos. Isso se justifica, na verdade, através de uma persuasão da mente humana em trabalhar melhor com aquilo que, de alguma forma, nos faz bem. O desejo, explorado por Caroline Polachek em Desire, I Want to Turn Into You, é mais uma explicação, menos científica e mais humana, sobre o que esse estado mental é capaz de provocar. E talvez por isso este seja um projeto puramente ambicioso que tem o instinto de expor toda a genialidade de Caroline Polachek. É de um conhecimento musical brilhante e raro nos dias de hoje.

2. gush — Soft Tissue [Experimental]

Impor sutilezas e detalhes que só podem ser captados com uma escuta atenta, enquanto reconstrói texturas e sons, são características precisas do trabalho de soft tissue em gush, uma obra que extrapola o sentido constitutivo da música como arte, repondo características e instigando a reflexão sobre a maneira como o som e a sua percepção estilística devem ser vistos no plano articulado da tenuidade artística.

1. DJ E — Chuquimamani-Condori [Experimental, Sound Collage]

Mesmo percorrendo um caminho contrário à idealização do que é a música como resultado de um processo, DJ E, de Chuquimamani-Condori (Elysia Crampton), tem suas bases estabelecidas na utilização de elementos que fazem desse processo um axioma musical. Ou seja, embora esteja distanciando-se do óbvio o tempo todo, a obra ainda emite sinais como sensações táticas de vivenciar o som. Veja, por exemplo, como “Return” e sua infinita sobreposição de sons, ruídos e gritos flamejantes, segue uma melodia que, de forma agonizante, atinge seu objetivo de comover. É surreal.

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Maqtheus
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Written by Maqtheus

Graduando em Letras, 23 anos. Textos para os sites Suco de Mangá, CriCríticos, VHS CUT e Aquele Tuim.

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